domingo, 23 de março de 2008

Histórias para fazer ouvir o texto e passar a palavra


ROBERTO MERINO- «histórias para fazer ouvir o texto e passar a palavra» entrevista por Liliana Rosa

Roberto Merino, natural do Chile, 51 anos (dos quais 46 de carreira), Encenador e Professor de Teatro no Porto. O Teatro Experimental do Porto foi o grupo em que se estreou em Portugal. Actualmente desempenha actividade de docência na ESAP - Escola Superior Artística do Porto, e no Ballet Teatro. “Histórias de Pássaros” é a sua mais recente produção e a concretização de histórias que Peter Brook lhe sussurrou ao ouvido, no sentido em que «é um espectáculo a pensar em Peter Brook» pela concepção estética. Da encenação ao ensino de teatro, procura «dar respostas» aos seus alunos/actores.

Onde começa o seu percurso como profissional de Teatro e como vem para Portugal?
«A primeira memória que tenho de teatro é de uma pequena dramatização que se fez de um conto no jardim de infância, tinha eu mais ou menos cinco anos. O que sei é parte do que me lembro e parte do que me contaram. Esta experiência foi um pouco traumática, houve um momento em que comecei a chorar pelo ambiente escuro, tenebroso e tétrico; no entanto, entre o choro e a representação aconteceu algo que não foi assim tão mau porque acabou por seduzir-me.
A minha formação Universitária foi na área da Matemática, em Estatística. Formação que abandonei por dois motivos: o primeiro foi político, tive de abandonar o país em 1974; o segundo motivo foi por opção profissional, decidi seguir a carreira teatral.
Tive formação em teatro/encenação com profissionais de teatro no Chile e dentro do que se pode considerar um auto-didactismo, o meu trabalho foi apoiado por gente de grande conhecimento.
Estive um ano na Alemanha, na República Federal Alemã, onde trabalhei e estudei com emigrantes espanhóis e portugueses. Foi através de um professor de português que tive o contacto da Fundação Calouste Gulbenkian. Esta instituição contactou uma série de companhias apresentando a minha candidatura para actividade profissional em Portugal. A este apelo responde o Teatro Experimental do Porto e entre 1975 e 1978, a Fundação Gulbenkian financia um subsídio de desempenho de actividade nesta companhia. No final deste período não renovam o contrato o que me levou rumo ao Funchal.»

Quais são as melhores experiências de encenação que recorda?
«As minhas melhores experiências em encenação aconteceram no Teatro Experimental do Porto: «Artimanhas de Capino» de Molière e o belíssimo espectáculo «O soldado e o General», um texto meu que foi a um Festival na Venezuela.
Um trabalho que considero, de outro modo, muito valioso para mim foi a minha experiência no Funchal, onde estive mais ou menos cinco anos. No Funchal deixei a funcionar uma estrutura de teatro que na altura era semi-profissional e hoje se converteu em profissional - o Teatro Experimental do Funchal. Creio que o meu contributo para a formação desse grupo foi decisivo como companhia profissional porque lhes ensinei formas de trabalho e produção.»

Assinala no programa da peça «Histórias de Pássaros» uma referência ao trabalho de Peter Brook. Qual é a relação que estabelece com este encenador?
«O primeiro espectáculo que vi do Peter Brook foi o «Marat/Sade» com a Royal Shakespeare Company no cinema na década de 70 no Chile. Mais tarde na Europa tive oportunidade de ver «La Conférence des Oiseaux » e «La Tragédie de Carmen». Tive o prazer de me cruzar com Peter Brook em Lisboa onde segui o seu trabalho mas não chegamos a falar. Para mim o teatro de Peter Brook é interessante na medida em que conjuga muito bem a preocupação pelo ensino do teatro com o que o que o teatro é como comportamento ético, como forma de vida, como moral e como filosofia. A este grande criador artístico fui buscar dois elementos fundamentais para este espectáculo: o primeiro foi o ambiente oriental referenciado no guarda roupa, na estética, no visual, no musical (a partir das ideias que tenho daquilo que é o oriente); o segundo foi o papel do actor - em Peter Brook, o teatro só precisa do actor em palco, o resto é «adereço» mesmo podendo até ser muito bonito...
Peter Brook diz-nos que a imaginação é um músculo e neste conceito há a ideia de poder activar/muscular a imaginação através do exercício teatral, e com isto fazer com que o público também actue. Brook apela a que o público se sinta coagido através da sua imaginação e se integre no espectáculo.
Histórias de Pássaros é um espectáculo que me anda na cabeça há uns seis ou sete anos. Geralmente, enceno autores que gosto, autores que eu julgo terem algo para ser dito e para mostrar em palco. Este espectáculo é concebido a partir de contos de tradição oral indígena sul-americana, da Índia e da tradição europeia “A Curandeira, o Mocho e o Colibri” e “O Pássaro Barundá”; contos de Oscar Wilde “O Rouxinol e a Rosa” e “O Príncipe Feliz”; e um conto de Anabela Mimoso “O Menino Pássaro”, o tema central é repetidamente o sacrifício das aves pelos seres humanos.
A ideia desta peça era contar histórias e o trabalho do actor estar fundamentado literalmente nisso. Fazer ouvir o actor, fazer ouvir o texto e passar a palavra. Aquilo que poderia ser dado corporalmente, fisicamente pelo actor através dos objectos, ou através da luz poderia tornar-se superficial, porque o fundamental é o texto bem dito e perfeitamente veiculado para o espectador ouvir. Há momentos em que a acção pára e a única coisa que existe é o texto.»

Como é que dirigiu «Histórias de Pássaros» para um público infantil?
«O espectáculo “Histórias de Pássaros” é dirigido ao público em geral, e em especial a um público carente que é o público infantil. Há muito poucos espectáculos para crianças e pouca preocupação em ensinar as crianças do ponto de vista do maravilhoso, do fantástico, do imaginário. Aparece um filme da Walt Disney e os pais levam os filhos ao cinema na Páscoa, no Natal e nas Férias grandes para limpar a consciência, quando durante o ano não fizeram nada.
É um espectáculo para todos mas também para os miúdos pois considero que em termos de linguagem, não se deve minorar nenhum público. Quanto mais erudita e mais universal for a linguagem muito mais acessível se tornará cada vez mais. Se a criança não conhece as palavras, tal como acontece por vezes no adulto, o contacto com elas torna-se um apelo à procura do seu sentido e à aprendizagem.»

Qual a função do actor e do encenador e o que é que considera importante em termos de «comunicação teatral» - a forma como a comunicação entre actor/encenador e receptor/público se estabelece?
«Um fenómeno de comunicação só existe se tivermos três elementos: veiculo - mensagem, o emissor e o receptor. A base fundamental é o trabalho do actor enquanto o encenador tem a seu cargo a função de dar a ferramenta para veicular esta comunicação ao espectador.
O actor e o encenador têm de ser eficientes e eficazes tanto quanto se pede a qualquer profissional de qualquer área. Quanto ao actor, não precisa de ser bonito ou feio, de ser um galã, de ser corporalmente ou fisicamente extraordinário, tem sobretudo de conhecer as suas capacidades físicas e a necessidade das mesmas poderem ser melhoradas: a capacidade da voz, do corpo, da memória, da imaginação, da agilidade. A minha preocupação no sentido pedagógico como coordenador de um curso de teatro é de mostrar aos jovens estudantes as diversas preocupações específicas que devem ter em conta: a dicção; o equilíbrio; a forma de caminhar; a posição em palco...
O actor e o encenador têm de ser capazes de dar resposta a muitas perguntas, o actor tem de sentir-se apoiado e de saber sempre porque executa determinado gesto. O encenador tem de ser eficiente no sentido de saber veicular a ideia que pensou do espectáculo, para que o actor se integre da melhor forma.»

Como docente como caracteriza a actividade pedagógica a nível de teatro no Porto e a saída Profissional das diferentes escolas?
«A minha actividade dividiu-se sempre entre o teatro e o ensino. Na ESAP – Escola Superior Artística, sou coordenador e responsável pela direcção do Curso de Teatro desde que ele se formou, há aproximadamente 20 anos, e docente na área de interpretação e direcção teatral/encenação. No Ballet Teatro lecciono fundamentalmente teatro clássico.
No Porto o ensino de teatro está bastante generalizado: temos a ESMAE - Escola Superior de Musica e Artes do Espectáculo - com a área teatral repartida a nível de especialidades; a ESAP – Escola Superior Artística do Porto – que funciona a nível de um conhecimento mais geral; a ACE – Academia Contemporânea do Espectáculo, e o Ballet Teatro, ambas as escolas de formação profissional.
Estou preocupado como docente em dar aos meus alunos ferramentas para que formem grupos e criem pequenos espectáculos que possam vender as Câmaras Municipais, se não houver outros apoios.
Como os alunos que saem não são muitos, é fácil integrarem-se nas companhias. No início de carreira principalmente, é preciso partir pedra e conquistar patamares porque é um trabalho difícil como os outros. É um trabalho de exposição que requer um grande esforço e uma formação contínua havendo necessidade de continuar a frequentar oficinas de canto, de musica, de dança, de dobragem, de cinema...»

Como caracteriza o teatro «de agora», que está a acontecer neste momento?
«O Teatro Nacional tem uma boa programação e um serviço educativo muito importante na promoção de uma aproximação do teatro junto das escolas, dos liceus e do ensino universitário. Há companhias que não estão a ser subsidiadas o que implica que o seu trabalho seja debilitado. Deveria haver mais teatro no Porto, mais três ou quatro Companhias a funcionar, há pouco teatro para uma cidade com esta dimensão cultural - por vezes desfolha-se o jornal e não há espectáculos em cena, o que não deveria acontecer... Deveria haver mais teatro também no sentido de diversidade - de diferentes formas de teatro: a comédia que é, muitas vezes, vista de forma pejorativa; o teatro clássico no exemplo do Teatro Nacional que está ligado à difusão dos grandes textos e das grandes produções que não pode ser feitas por companhias pequenas por falta de meios e recursos; o teatro social; o teatro para a juventude; o teatro estudantil ou universitário; o teatro amador...
Deveria, também, haver produção cinematográfica no Porto pois há uma grande assimetria de meios e recursos entre a capital e o norte, o que obriga muitos jovens a procurar trabalho na capital e a fixarem-se por lá pelas maiores possibilidades de trabalho. Dos alunos que se formaram aqui na ESAP, alguns foram para Almada, para Vila do Conde...»

Quem vai ganhar o BIG BROTHER BRASIL 8?

Este é o único Big Brother a que eu assisti, em Portugal houve um tal de Zé Maria que foi indicado mil vezes ao "paredão" e acabou por ganhar. Pelo já notado, existe forte hipópese de Rafinha ganhar o prêmio pela sua atitude generosa de ontem...no entanto, se Gyselle souber jogar e dar a cartada certa, é ela quem merece e leva o prêmio. Parece-me a pessoa mais consciente do jogo.