segunda-feira, 9 de junho de 2008

DogVille, até onde vai o certo e o errado


Dogville é um filme violento, mostra-nos a rudeza da mente humana no seu lado mais mesquinho e mais cruel. Conseguimos identificar as situações apresentadas e situá-las. É difícil digerir o início do filme...parece um ensaio, parece um espetáculo de teatro filmado. Até que a certa altura é como se o filme nos engolisse e já é indiferente se existe cenário, se as portas imaginárias fecham e abrem...o nosso íntimo é surpreendido por uma história que começa a mexer connosco. Há um momento que quase nos engasgamos com diversas situações. No final o diretor nos surpreende com o reverso da história e justifica o porquê de gravar todo o filme dentro de um galpão. Vale a pena passar por cima dos primeiros momentos mais difíceis do filme, o início, e assistir as três horas que Lars Von Trier nos oferece. O diretor é comparado a Brecht em diversos aspectos, eu acrescento um que considero o "mote": se em Brecht ("A Boa Alma de Sé-Tesuã") as personagens são "personificadas" como ratos, em Dogville são cães.


"Dogville é um filme lançado em 2003 e dirigido por Lars von Trier, estrelando Nicole Kidman e Paul Bettany entre outros. Este filme faz parte da trilogia "E.U.A. Terra de Oportunidades" tendo como seqüência Manderlay (2005) e Wasington (planejado inicialmente para 2007, atualmente sem data prevista).

O filme chama a atenção pela simplicidade de seus cenários e cortes de cenas não convencionais. Todo o filme foi filmado dentro de um galpão localizado na Suécia com o mínimo de artefatos, há poucas mesas e algumas paredes, mas normalmente há apenas marcações no chão indicando que ali é a casa de tal pessoa, ou há um arbusto. Apesar dos personagens fazerem constantes referências a paisagem, ou ao céu, o fundo é infinito, tendo constantes alterações de luz e cor que indicam mudanças de dia/noite, clima e de momentos importantes do filme. O filme ainda tem um narrador onisciente e é o próprio Lars von Trier quem controla a câmera.
Tudo isso são artimanhas do diretor para que o público não se esqueça de que assistem a uma peça de ficção, valorizando o trabalho dos atores. O resultado é aberto a opiniões: alguns espectadores saem maravilhados com a sensibilidade com que Lars retrata a arrogância humana e a atuação brilhante (Nicole Kidman, vencedora do Oscar por As Horas), outros acham o filme longo e maçante (o filme tem quase três horas de duração).
Influências e referências
Dogville apresenta claras referências visuais e influências de produção herdadas do movimento Dogma 95, manifesto cinematográfico que foi iniciado pelo próprio Lars Von Trier. Em Dogville temos a ausência de trilha sonora no filme, câmera na mão, não há deslocamentos temporais ou geográficos. Entretanto, em Dogville há a presença de gruas, iluminação artificial e cenografia, itens que eram proibidos no Manifesto Dogma 95.
Existem visíveis influências teatrais em Dogville, como o teatro de Bertolt Brecht, que costumava colocar avisos de 'atenção, não se emocione, isso é ficção' em suas peças; o teatro caixa preta, realizado em um único cenário com as paredes todas pretas, e finalmente o teatro do absurdo, onde os atores improvisam e criam situações onde interagem com objetos imaginários.
Percebe-se na construção da trama e no foco humanista do tratamento dos personagens influências de escolas de filosofia, especialmente as gregas. Por duas vezes cita-se nos diálogos os ensinamentos dos estoicistas, uma escola que pregava o abandono da emoção para vivermos sem dor. E muito da moral da história gira em torno da diferença entre o altruísmo - dar sem esperar nada - e o quid pro quod - que exige uma compensação equivalente para cada ação." Extraído de Wikipédia